Amigos(as) leitores(as) do Ementário!
Diversos são os desafios na formação de alunos(as) nos cursos de Administração Pública no Brasil. Como as universidades e as escolas de governo devem preparar seus cursos para as competências que o Estado brasileiro precisará nos próximos anos? Como as novas tecnologias e a Inteligência Artificial impactarão nos trabalhos dos(as) servidores(as)? Para tratar dessas e de outras provocações, o Ementário de hoje convida dois dos melhores professores em Gestão Pública do País – Francisco Antonio Coelho Junior, Doutor em Psicologia Social, do Trabalho e Organizações pela Universidade de Brasília, e Sandro Trescastro Bergue, Doutor em Administração, área de Estudos Organizacionais, pelo PPGA/UFRGS – para uma entrevista especial.
A organização do trabalho foi feita pelo prezado Eduardo Paracêncio.
Sandro Bergue-Professor Francisco, O ensino de administração pública no Brasil tem uma trajetória história muito bem registrada, entre outros, por Coelho (2019)[1], descrevendo ciclos distintos de expansão e contração, e que, mais recentemente, se insere em um vigoroso movimento de consolidação do que denominamos Campo de Públicas. Neste processo de franca expansão e institucionalização da formação em administração pública, Coelho et al (2020) [2] abordam desafios e perspectivas, examinando mais detidamente o fenômeno a partir da definição das Diretrizes Curriculares Nacionais estabelecidas em 2014 para o Cursos de Bacharelado em Administração Pública.
É fato, também, que as transformações sócio-políticas e econômicas que a sociedade brasileira vem experimentando, intensamente atravessadas pela tecnologia, mostram-se bastante desafiadoras em termos de respostas adaptativas requeridas. Mas, apesar da multiplicidade de atores que emergem com vigor nesse cenário, o estado segue em posição de centralidade na teia de entrelaçamentos que conforma a vida das pessoas.
E a ação do estado se dá, sabe-se, pela administração pública, financiada pelo cidadão-contribuinte, mas que age pelas mãos, guiadas pelas mentes dos agentes públicos – servidores e agentes políticos. É nesse contexto que ganham relevo temas como a formação em administração pública, o posicionamento das universidades e escolas de governo, e as competências necessárias a estes agentes. O que se tem oferecido para a formação destes intelectos?
Vamos conversar um pouco sobre isso?
Olhando, de início, para a Universidade – em seus papéis de ensino, pesquisa e extensão –, o perfil dos estudantes de Administração Pública tem se transformado nos últimos tempos? Se sim, particularmente em relação à graduação em Administração Pública, que mudanças poderiam ser destacadas, por exemplo, em termos de interesses, expectativas, entre outros aspectos que entender pertinentes explorar?
Francisco Coelho- Primeiro ponto que eu gostaria de destacar é que a busca pelo conhecimento é essencial. Conhecer é apropriar-se e melhor entender o mundo. A meu ver, buscar a melhor versão de si implica em mergulhar num vasto campo de aquisição de informações, conteúdos e saberes que te auxiliem a entender e interagir no mundo. De todos os tipos de conhecimento, que não cabem aqui neste espaço, gostaria de ressaltar o conhecimento do tipo científico, que é o tipo de conhecimento praticado nas universidades e centros de pesquisa pelo mundo afora. O conhecimento científico é eficaz para compreender a realidade e, então, apropriá-la e modificá-la no mundo. O conhecimento científico é refutável, e fundamentado em literatura pertinente e métodos validados, praticados por toda uma comunidade de pesquisadores e aplicadores práticos (como os gestores organizacionais). É preciso que se reflita, continuamente, sobre o atual papel da universidade na formação dos alunos, e na sua importância para a perpetuação do conhecimento científico aplicado sobre o mundo. No contexto das universidades, nota-se que o perfil dos alunos vem se modificando sensivelmente ao longo das décadas, como um espelho, ou reflexo, da própria diversidade geracional atualmente vivenciada. Lidar com a diversidade geracional, levando em consideração suas características, perfil e particularidades, é o primeiro passo para se pensar em proporcionar uma aprendizagem significativa e transformadora. Cada geração, seja ela Y, Z ou alpha, por exemplo, possui sua própria concepção de mundo, determinando motivações, interesses e expectativas, inclusive, quanto ao que significa, e qual é a real importância, da formação em administração pública. Compreender como cada geração entende e se comporta no mundo é o primeiro passo para se promover uma aprendizagem próxima aos interesses dos alunos, e daquilo que a sociedade requer (e precisa!). A própria concepção sobre o que significa ‘gestão pública’ difere em termos de sua utilidade e relevância a partir do perfil de cada geração. Cada geração possui sua maneira própria de pensar, agir e se comportar, e uma não é melhor do que a outra. Buscar pelo equilíbrio, por meio do diálogo da escuta ativa, e de um propósito coletivo, orientado à aquisição de futuras competências profissionais, é um dos principais desafios que a atual pedagogia enfrenta no ensino da administração pública. Num século XXI de achismos infundados, baseados apenas na livre opinião personalista sobre o tema, com vários “especialistas em tudologia”, muitas das vezes sem qualquer fundamento científico, é esperado que as universidades forneçam um arcabouço instrumental recomendado para atuação na administração pública, valorizando uma formação ética e baseada na ressignificação do papel e importância da gestão como um todo para a coletividade social. Compreender o que cada geração entende, e define, por ‘administração pública’, é fundamental, de modo que as ações de ensino, pesquisa e extensão refletirão o grau de comprometimento de cada aluno em relação à formação das suas próprias competências. Incorporar a ferramenta da tecnologia aos processos de trabalho é essencial, definindo-a como um meio, ou instrumentação, necessária, que pode qualificar ou oportunizar o alcance de um fim. Os cursos universitários precisam se adaptar muito mais aos impactos das novas tecnologias. A pedagogia que se aplica no século XXI é diferente da pedagogia praticada na segunda metade do século XX. A pedagogia contemporânea vem estimulando a promoção, cada vez mais, do aluno como o agente principal de sua aprendizagem. O perfil do aluno é menos, ou mais, alinhado ao seu interesse quanto à coisa pública, dependendo de que tipo de geração ele pertence. Muitos alunos, hoje, já não querem mais fazer concurso público, por exemplo, diferentemente de anos atrás. O que mudou? Qual é o grau de atratividade que a própria administração pública, como um todo, desperta nas gerações atuais? Como as próprias universidades se alinham ao perfil heterogêneo de alunos, muitas vezes, lidando com duas ou três gerações, de maneira concomitante, em um mesmo espaço, na pós-graduação, por exemplo, e o que elas têm feito? A estrutura organizacional das universidades é a mesma em relação às décadas anteriores? Os alunos vêm sendo estimulados a serem servidores públicos, ou empreendedores, donos do próprio nariz? Metaforicamente, qual é o perfil de egressos que as próprias universidades definem? É um perfil atualizado? O contexto de sala de aula precisa levar em consideração muito mais do que simplesmente a transmissão passiva de conteúdos por parte do professor. A formação cidadã, baseada em responsabilidade social e ambiental, preocupações típicas da geração alpha, por exemplo, precisa ser muito mais incentivada nos currículos acadêmicos. As universidades deverão tornar o seu currículo mais flexível e adaptável a partir de competências transversais, que deverão ser menos ou mais desenvolvidas levando-se em consideração o interesse e engajamento do próprio aluno. Estimular hubs de conhecimento colaborativo pode ser uma estratégia eficaz às universidades, favorecendo a construção de arcabouço teórico/metodológico aplicado. O engessamento dos currículos acadêmicos, e sua falta de conectividade com a realidade, pode até desestimular a formação do aluno e desengajá-lo. O próprio perfil dos professores, de gerações mais antigas, precisa ser readequado, ou realinhado, ao perfil das características das novas gerações. Reduzir a evasão escolar, nas universidades, passa pelo suporte contínuo à aprendizagem e o oferecimento de técnicas e ferramentas administrativas, e de gestão, que os alunos consigam visualizar sua aplicabilidade e relação com os processos de tomada de decisão. Uma pedagogia baseada na resolução de problemas costuma ser transversal, e estimular o interesse das distintas gerações, tornando o processo de ensino e de aprendizagem mais atrativo, e gerando-se debates que espelham o olhar reflexivo de cada aluno sobre a questão em debate. É preciso que se atue na redução dos níveis de ansiedade, insegurança, indecisão e atenção fragmentada, que vêm sendo observadas como característica marcante do século XXI. Prover suporte é fundamental, da mesma forma que criar condições para que se desenvolvam competências associadas a senso crítico, embasado sobre os fenômenos, autoconfiança, resiliência, resistência à frustração, liderança, capacidade de ter escuta ativa e uma orientação mais direcionada para a resolução de problemas reais.
SB- Ainda nesse cenário, como percebe a orientação desta formação na atualidade? Ainda mais direcionada para a ocupação de espaços na administração pública ou também tem se voltado para o mercado? Esta pergunta parte de uma diretriz expressa nas próprias Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Bacharelado em Administração Pública (Resolução CNE/CES nº 01/2014), que em seu art. 3º indica que a formação destina-se a tornar os profissionais egressos aptos a “atuar como políticos, administradores ou gestores públicos na administração pública estatal e não estatal, nacional e internacional, e analistas e formuladores de políticas públicas”. Esta pluralidade se observa nas salas de aula, seja em termos da diversidade de estudantes, seja em termos de orientação curricular oferecida pela Universidade?
FC- O que se espera na formação do futuro administrador é que seja alguém qualificado para o planejamento, implementação e avaliação de práticas que sejam inovadoras, de qualidade e transformadoras dos processos de trabalho. É importante o desenvolvimento de competências técnicas, comportamentais e socioemocionais, que balizarão sua futura atuação profissional. Muito do que está estabelecido nos projetos político pedagógicos, e nas próprias diretrizes curriculares, definem o perfil esperado do administrador, quer seja orientado para atuação nas áreas pública ou privada. Este perfil idealizado precisa levar em consideração uma série de variáveis, tais como a formação do quadro docente, o grau de maturidade dos próprios estudantes, sua menor ou maior afinidade e de interesse para com a administração pública ou privada, o tipo de atividades de pesquisa e de extensão ofertados pela universidade, o porte da cidade em que a universidade se encontra, o perfil da economia local, enfim dentre tantos outros aspectos capazes de ativar e manter o nível de motivação dos alunos para a sua aprendizagem. Cada universidade, normalmente, se adapta, em termos da oferta de cursos, às demandas locais e regionais. Isso é essencial para se compreender, afinal de contas, o que chamamos de ‘administração pública’. Compreender, numa lógica Aristotélica, como cada estudante define e interpreta o que significa ‘administrar algo’, é essencial. Cada geração de alunos possui seus próprios interesses, e os currículos das universidades precisam ser adaptáveis e flexíveis o suficiente, sem se perder no meio de modismos típicos da administração, visando atender às necessidades sociais, e de mercado. É fundamental que as universidades façam ações contínuas de diagnóstico acerca da motivação para aprendizagem, e suscite debates reflexivos junto aos alunos sobre ‘por que fazer administração’. O interesse pelo curso de administração veio despertado por qual fator? É muito comum, logo no início do curso, os alunos ficarem ávidos por realizarem estágios curriculares, por exemplo, mas é fundamental que o aluno consiga diversificar suas experiências de aprendizagem, também, para as atividades de pesquisa e de extensão universitária. Conseguir convergir os seus interesses e aspirações, levando em consideração os currículos acadêmicos ofertados, é um dos principais desafios que o aluno de administração enfrenta. Não ser seduzido por um estágio logo no início do seu curso, onde provavelmente ainda estará imaturo, e sem o nível de aprendizagem devido a realizar um estágio de qualidade, sem o conhecimento adequado para tornar a experiência, de fato, válida, é mais um desafio que os coordenadores de cursos de administração precisam enfrentar. Tornar o curso muito mais atrativo, ofertando atividades de ensino, pesquisa e extensão, a partir dos interesses de cada aluno e atenção ao mercado, é fundamental. As universidades não podem mais ficar paradas no tempo, numa proposta de educação apenas massificadora ou excessivamente padronizada. A educação é plural, cada vez mais individualizada e centrada nos interesses e motivações dos alunos.
SB- Quanto à formação profissional continuada em administração pública, outro importante ator importante são as escolas de governo. Seja, para ilustrar, a Escola Nacional de Administração Pública – Enap no âmbito do Poder Executivo Federal, principalmente, sejam as demais Escolas dos outros poderes e dos demais entes federativos, entre as quais as Escolas de Legislativos e Escolas de Contas, que desafios se impõem para uma formação que responda não somente às diversidades regionais – também uma riqueza do nosso país –, mas às especificidades dos estados e, especialmente dos municípios?
FC- O papel das escolas de governo, na formação de aprendizes mais qualificados e bem-informados às novas demandas da gestão pública, é fundamental. As escolas de governo fortalecem o serviço civil, por meio de ações de capacitação e desenvolvimento profissional. Elas permitem maior capilaridade na gestão pública, adaptando-se, com maior flexibilidade, às necessidades federais, estaduais/distritais ou municipais. A atuação das escolas de governo torna-se, portanto, extremamente tática e estratégica, levando-se em consideração diversidades regionais bem como especificidades dos estados. Com as escolas de governo, levantam-se necessidades de capacitação e de melhoria dos serviços prestados à população considerando-se a regionalidade. Distintos arranjos institucionais são proporcionados pelas escolas de governo. Elas auxiliam na consolidação da identidade do campo disciplinar da administração pública, nas suas distintas esferas. A estruturação das carreiras, com o provimento de trilhas de aprendizagem, baseadas em necessidades de competências profissionais, tornam, cada vez mais, estratégicas as escolas de governo. Diretrizes e pressupostos da política nacional de desenvolvimento de pessoas são facilitados e alcançados pelo papel estratégico desempenhado por essas escolas, independentemente do seu nicho de atuação. A promoção do bem-estar social, e do valor agregado à coisa pública, vêm sendo mais oportunizados com servidores públicos mais bem qualificados e atentos às necessidades da sociedade. Suas matrizes curriculares mais flexíveis permitem múltiplas possibilidades formativas, capturando realidades distintas e mais bem direcionadas, e articuladas, ao real interesse da administração pública. O impacto e o grau de aplicabilidade de suas ações repercutem sensivelmente na melhoria da oferta de serviços públicos de qualidade à sociedade.
SB- Outro ponto também central quando pensamos a formação em administração pública diz respeito às competências, tanto aquelas necessárias aos agentes públicos de modo geral – denominadas transversais, nos termos da Instrução Normativa SGP-ENAP/ME nº 21/2021 e alterações subsequentes –, quanto as voltadas para as lideranças. Dentre estas, quais se destacariam na sua opinião? Neste particular, seria possível perceber uma integração destas competências com as oportunidades que os currículos oferecem na graduação, inclusive em termos de metodologias de ensino e aprendizagem (Santos & Teixeira, 2019)[3]? Estão contempladas, digo? Que outra ou outras competências seriam necessárias aos agentes públicos para corresponderem aos desafios com os quais se defronta na administração pública na sociedade contemporânea?
FC-Os currículos, na graduação, precisam ser mais bem ajustados, flexíveis e adaptados, inclusive, em termos de suas estratégias pedagógicas, para o desenvolvimento de novas competências profissionais do século XXI. Revisar, continuamente, os projetos políticos pedagógicos é fundamental. Estas competências, quer sejam as hard ou soft, precisam ser mais bem estimuladas, em termos de pensamento reflexivo, baseado em resolução de problemas. Os processos de tomada de decisão precisam ser individualmente estabelecidos nas salas de aula, ao mesmo tempo que coletivamente debatidos, visando-se identificar diferenças e convergências quanto às condutas e comportamentos a serem adotados pelos alunos. Competência associadas ao senso crítico, habilidades sociais, estratégias de lideranças ora mais transformacionais, ora mais de cunho transacional, por exemplo, bem como de provimento de suporte e apoio a dúvidas relacionadas ao trabalho, devem ser muito mais estimuladas. É inegável o desenvolvimento da mentalidade digital, todavia, sem o seu uso apropriado, em aderência com os valores organizacionais, e convergindo com os recursos e capacidades organizacionais, o uso da tecnologia por si só se torna sem sentido. Mais do que eficiência, é gerenciar com base na criação do valor agregado. Uma instituição de segurança pública, por exemplo, além de definir e monitorar os indicadores de combate à criminalidade, deverá levar em consideração o quanto a redução desta criminalidade impactará nas políticas públicas de segurança. Este é o tipo de valor agregado para além dos indicadores de eficiência e eficácia. Novas competências, especialmente de lideranças, deverão ser capazes de planejar e implementar este valor agregado, verificando-se seu efeito nas políticas públicas como um todo. A gestão do ambiente do trabalho continua sendo fundamental, do ponto de vista técnico e de promoção de bem-estar. Ser capaz de agregar interesses e aspirações entre membros de uma mesma equipe, que desempenha seu trabalho na modalidade híbrida, presencial ou remota, por exemplo, também se coloca como um importante desafio. A liderança precisa ter uma escuta ativa, e ações contínuas de autorreflexão, sobre a eficácia das suas próprias condutas de comportamento junto à sua equipe. Os efeitos da diversidade geracional deverão sempre ser monitorados, da mesma forma que as heurísticas associadas a tomadas de decisão também deverão ser estimuladas, inclusive, pelos cursos de graduação e pelas escolas de governo, nas suas ações de capacitação. A profissionalização da gestão pública passa pelo repensar contínuo e crítico acerca da eficácia das suas próprias atuações. Influências políticas e dos múltiplos stakeholders têm sempre que ser levadas em consideração. A capacidade de comunicação precisa ser continuamente construída, desenvolvendo muito mais estratégias e técnicas de empatia, resolução de conflitos em equipe, construção de relações de confiança e racionalização dos recursos ante o desempenho esperado.
SB-Entre os fenômenos em evidência na administração pública brasileira está o denominado “apagão das canetas”, situação na qual, em estreita síntese, o agente abdica da possibilidade de deliberar e de agir nos espaços de discricionariedade disponíveis por receio de ser responsabilizado, seja na órbita hierárquica, seja por parte dos órgãos de controle. Fato é, também, que a complexidade dos enlaces entre administração e sociedade está a demandar dos agentes maior autonomia e agilidade de decisão e ação; e, em contraste, os arranjos normativos convencionais não conseguirão responder à expectativa de segurança desejada para um agir nos moldes da legalidade reduzida ao território da ação vinculada. Diante disso, a formação em administração pública está orientada para capacitar os profissionais a operarem diante deste desafio?
FC- A formação em administração pública precisa ser capaz de despertar um senso crítico/reflexivo por parte do aluno, e de responsabilização, que leva em conta o fenômeno do ‘apagão das canetas’, conforme perguntado. Não raro nós ouvimos a expressão “é o meu CPF que está em jogo”, como se fosse uma prerrogativa para se evitar tomar decisões mais arriscadas (inovadoras demais?) relacionadas ao trabalho, como se tais decisões repercutissem insegurança ou pouca confiança. A própria descontinuidade de políticas públicas, de forma geral, em que cada gestor quer ‘imprimir a sua marca’ ou ‘deixar o seu nome, ou o seu legado’, é outro fator que precisa ser mais bem trabalhado nos cursos de formação. Muita frustração é gerada por conta desta descontinuidade de ações (política de Estado x política de Governo), de modo a que cada um emprega estratégias menos ou mais engajadas para lidar com tal fenômeno. A formação em administração precisa ser baseada na resolução de problemas reais, trazendo o debate acerca do uso de evidências para a formulação de políticas públicas e tomada de decisão. Nunca se exigiu tanto do componente ético e de visão sistêmica do administrador. Quantas inovações, que poderiam ter sido muito benéficas para a sociedade, por exemplo, foram inibidas, ou limitadas, em virtude de se ter o medo do próprio CPF em jogo? Já ouvi muito “mesmo tendo plena consciência e estar tudo dentro da legalidade, não arrisquei porque fiquei receoso, é o meu que está em jogo”. Torna-se até um dilema ético, dentro daquilo que eu costumo chamar de uma ‘complexidade necessária, assentada em um paradoxo trágico’, pois estamos sujeitos a pressões de toda sorte, de tudo quanto é lado, pressões que sequer reconhecemos até! Até onde vão os limites da atuação gerencial? Até onde cada liderança, ou gestor, está disposto a ir? Os currículos das universidades, e das escolas de formação, conseguem alcançar tantas especificidades típicas do cenário ‘caleidoscópico’ da gestão pública? Como essa realidade é trabalhada nos bancos acadêmicos? Ou, os currículos são por demais engessados, e desatualizados, em relação às novas exigências/demandas que se impõem? Outras perguntam se situam no bojo deste debate: o atual perfil do servidor público favorece, ou dificulta, a criação e solidificação de valores organizacionais, e da cultura como um todo, em culturas organizacionais que vêm se tornado mais fortes ou mais frágeis? A fragilidade das culturas organizacionais pode potencializar trabalhadores menos identificados com o que fazem, ou com pouco senso de pertencimento e alinhamento à missão pública. Seu comprometimento passa a ser apenas de natureza calculativa, entrincheirado, motivado pela remuneração (o que se sabe não é fonte única de motivação!). Este tipo de debate precisa ser feito diariamente nas salas de aula, visando oportunizar soluções e promover maior identificação e significado com a coisa pública. O próprio conceito do que significa “ser público”, muitas vezes, é erroneamente confundido com “não ser de ninguém”, no Brasil. A cadeia de valores precisa ser continuamente identificada, debatendo-se planos de respostas baseadas em análise transdisciplinar das demandas que se impõem, tornando-se, cada vez mais, melhores e mais céleres no alcance das missões institucionais. Aprimorar capacidades organizacionais é essencial, bem como estabelecer uma dinâmica de coordenação e diferenciação entre distintos atores políticos, entendendo-se demandas em rede, não mais apenas baseadas no insulamento burocrático. Visão sistêmica é essencial.
SB- A questão anterior ganha relevo quando se coteja a expectativa de um agente público que responde a normas detalhadas de regulação dos procedimentos com a realidade da emergência da inteligência artificial. Explore, por gentileza, o tema da Inteligência Artificial no contexto do serviço público em seus reflexos na dinâmica do trabalho e do correspondente repensar da formação em administração pública (não somente dos servidores públicos, acentue-se, mas, também, dos demais perfis de egresso que se tem na realidade atual dos cursos de administração pública).
FC- A tecnologia e automação sempre fizeram parte da nossa vida profissional. Na administração, ambas esferas determinaram, historicamente, a mudança de rotinas e padrões de execução do trabalho. O atual cenário, vivenciado neste Século XXI, é da quarta revolução industrial, indústria 4.0, inerentemente tecnológica e com foco totalmente orientado pela mentalidade digital. Como já afirmei, automação e uso de tecnologia, historicamente, sempre fizeram parte do campo de saber aplicado da administração, sendo tido como ferramentas indissociáveis das práticas de gestão. A tecnologia é um meio, permitindo que se alcance um determinado fim. A tecnologia por si só não produzirá nada de relevante, só nos deixará mais ansiosos e com a sensação de ‘tempo perdido’. O grande problema é que, atualmente, está se dissipando a fantasia de que a tecnologia, usualmente, tem um fim em si mesma, que será capaz de resolver tudo, em menos tempo, e com mais qualidade. Está se assumindo, cegamente, especialmente pelas gerações mais contemporâneas, a premissa de que é a tecnologia quem ditará os rumos das próximas décadas. A gente não sabe disso ainda. Tudo, ainda, é muito novo, raso e incipiente. A ferramenta tecnológica deverá ser usada de maneira tática, e até estratégica, às organizações, convergindo com o alcance dos resultados e desempenho organizacionais. Tenho severas dúvidas se a própria estrutura da administração pública, no Brasil, como um todo, já tem o nível de flexibilidade e de maturidade, o mínimo necessário que seja, para começar a pensar em implementar ferramentas tão avançadas de inovação tecnológica. “Perguntar ao ChatGPT, ou à Gemini”, por exemplo, está se tornando uma prática comum, muitas das vezes para enriquecer trabalhos e processos engessados quanto à sua essência. De qual tecnologia estamos falando? Que tecnologia é essa? Toda tecnologia será aplicável? Ao mesmo tempo, ainda não se tem clareza sobre o que representa uma ferramenta de inteligência artificial. Te garanto que existem realidades organizacionais, especialmente pelo interior das administrações públicas estaduais e municipais em todo o Brasil, que a ferramenta do Excel avançado representará o máximo de prática de inteligência artificial que se conseguirá implementar. Mas, Excel significará inteligência artificial? Quem define que sim, e quem define que não? O que as pessoas estão falando e praticando em seu dia a dia? Claro que é uma piada exagerada, mas até que ponto o arranjo institucional público brasileiro está preparado para receber propostas de inovações disruptivas? Suas culturas organizacionais estão aderentes a estas inovações? Pessoas e processos organizacionais estão suscetíveis e têm abertura para tal? O “oba oba” decorrente do “vamos lá, vamos usar, temos que usar inteligência artificial, precisamos disseminar que estamos usando!” esbarrará na falta de conhecimento sobre as reais potencialidades, e ameaças (extinção de postos de trabalho), que a ferramenta poderá trazer. Daí, planilhas sofisticadas serão compreendidas como ferramentas de IA, quando, na verdade, eu não sei se é bem essa a ideia. O pensar científico é fundamental, até para minarmos a cultura rasa, típica do século XXI, dos “doutores em tudologia”, como eu já disse anteriormente, gente que dá pitaco em tudo, baseado em argumentos infundados e até inverídicos, capazes de disseminar fatos ou fakes acerca, por exemplo, dos impactos da inteligência artificial na vida humana. É preciso pesquisar cientificamente, primeiro, muito, aplicando arcabouços teóricos de distintos campos de saber, transdisciplinares, para, então, só depois, sermos capazes de tirar conclusões! Usar uma tecnologia só por usar, sem qualquer adequabilidade a cada contexto laboral específico, é amorfo, e gerará perda de recurso, fatalmente. A ciência da informação, aplicada ao contexto laboral público, especialmente em algumas organizações do nível federal executivo, chegou e consolidou-se, definindo padrões a partir de análises complexas e baseadas em séries longitudinais e temporais de dados. Não raro, navegando pela internet, você já precisa provar que não é um robô, por exemplo, ou que você é um humano! Já me peguei tirando dúvidas com um robô, e eu nem fazia ideia! A internet das coisas, os sistemas cyberfísicos, de inteligência artificial e a computação em nuvens, já faz parte da realidade cotidiana de algumas organizações públicas. É inegável que ferramentas tecnológicas facilitaram a transparência e o accountability, por meio de estratégias associadas a governo digital, por exemplo, e a outras ferramentas de inovação transformadoras. Mas, volta a pergunta: de qual tecnologia estamos falando? O que estamos chamando de IA? Os cursos em administração pública têm focado no desenvolvimento de competências de inovação, mas ainda alicerçados em conteúdos gerais, que não foram refletidos, ainda, à luz do impacto das novas ferramentas tecnológicas. Conteúdos relacionados à aprendizagem de máquinas, e avaliação de iniciativas inovadoras, com foco na criatividade e na flexibilidade do arranjo e dos impactos das estruturas organizacionais, já vêm sendo implementados nos cursos de graduação, mas ainda é altamente dependente da iniciativa individual de um ou outro professor. A questão que se coloca, a meu ver, hoje, é que se refere menos a uma proposta pedagógica transversal, institucionalizada, propriamente dita, e é muito mais dependente das iniciativas individuais de docentes e grupos de pesquisa, especialmente aqueles vinculados a temas de inovação. A inteligência artificial é mais uma ferramenta disruptiva que deverá auxiliar na execução e na busca pela eficiência dos processos de trabalho. É preciso, aliás, para quase tudo em nossa vida, de razoabilidade e parcimônia, no uso da inteligência artificial na administração pública, entendendo que o modelo jurídico administrativo da administração pública brasileira costuma engessar iniciativas muito inovadoras e disruptivas. Qualquer inovação, ainda que tecnológica, precisa manter um mínimo de aderência aos valores e práticas organizacionais. Processos de trabalho poderão ser facilitados com o emprego de técnicas de inteligência artificial, ainda que o fator humano, especialmente associado à análise de conduta, comportamentos, atitudes e valores associados ao trabalho, ainda sejam imprescindíveis ao alcance da missão e objetivos organizacionais. Será que a IA, um dia, elegerá nossos governantes, ou tomará decisões judiciais em horas? Será que a IA transformará a água salgada do mar em água doce, e se resolverá a seca no mundo? Quem sabe? Poderíamos perguntar à própria IA se ela um dia será capaz de fazer isso! (risos). É preciso estudar e buscar evidências acerca dos principais usos e impactos de ferramentas de inteligência artificial nas organizações públicas. O tripé universitário “ensino, pesquisa e extensão” poderá ser útil na avaliação deste impacto. É preciso evitar o uso indiscriminado, sem sentido e sem finalidade da IA, bem como ter o cuidado ético ao se usar ferramentas de inteligência artificial. As ferramentas de IA são capazes de resumir, simplificar ou ressignificar a complexa prática da gestão administrativa? Teremos IA que exerçam papel de lideranças, algum dia? Um processo de tomada de decisão é puramente racional, e a IA sempre tomará as melhores decisões? Quem dirá que sim, ou que não? Pessoalmente, acredito que a inteligência artificial dificilmente superará a criatividade, e intuição, humana.
SB- Estudo publicado em 2023[4], abrangendo os três estados da região sul do País, demonstrou que os Cursos de Tecnologia em Gestão Pública superavam em quantidade o número de bacharelados nesta área. Em termos de percursos alternativos para a formação em administração pública com vistas ao enfrentamento dos desafios que emergem na sociedade brasileira, como percebe o papel dos cursos de tecnologia em gestão pública e congêneres? Quais são as suas potencialidades e desafios? E quanto à educação a distância? Em suas diferentes configurações de oferta – formação de graduação (bacharelado e tecnologia) e profissional continuada – quais podem ser destacados como desafios prementes a serem superados?
FC-O curso ‘tecnólogo’ pode ser oferecido na modalidade de ensino à distância caso a instituição de ensino seja reconhecida pelo MEC e possua o certificado que a autoriza que o curso seja ofertado. Tecnólogos são reconhecidos, legalmente, como cursos de graduação de ensino superior, e costumam ser ofertados em um período menor, com menor carga horária, e duram, na média, de dois a três anos. Sua aplicação é muito mais orientada a demandas do mercado de trabalho, normalmente mais aplicado a cursos de gestão. Na área de tecnologia da informação, os cursos tecnólogos vêm se expandindo assustadoramente, com alta demanda, formando mão-de-obra a partir de demandas específicas do mercado. Estes cursos desenvolvem competências e habilidades profissionais mais críticas, orientadas à resolução de problemas concretos, e aplicados, mais complexos. Não enfatizam tanto o desenvolvimento competências de pesquisa e de extensão, por exemplo, centrando esforços no desenvolvimento mais concreto de habilidades práticas de gestão. É sempre desafiador refletir sobre a oferta de cursos tecnólogos e seus impactos, pois, ao mesmo tempo que o menor tempo de realização, e a rápida absorção no mercado, que costuma acontecer, pelo seu caráter exatamente mais aplicado e com foco mais específico, são principais atrativos, aspectos associados à qualidade de sua oferta sempre serão colocados em xeque. Como as competências diferem em relação aos cursos tradicionais das universidades? O debate que se levanta, a meu ver, sobre esta questão, é: qual é o papel dos cursos de nível superior, em termos da sua relação com o mercado de trabalho (foco dos cursos tecnólogos), ou com a formação de futuros pesquisadores e profissionais com competências transversais mais genéricas, por exemplo, foco dos cursos ofertados pelas universidades? As condições de ensino, especialmente evitando sua precariedade, quer seja na oferta de cursos tecnólogos, quer seja na oferta de cursos por universidades, bem como aspectos do perfil (cultural, social, econômico e outros) local/regional, precisam sempre ser consideradas como variáveis desta equação. É importante criar condições ótimas para a aprendizagem do aluno, seja num curso tecnólogo seja num curso universitário tradicional. Acredito, honestamente, que ambas as perspectivas têm o seu lugar, aplicabilidade e importância. Não caio no lugar comum de dizer que uma modalidade é pior ou melhor do que a outra. Ambas têm o seu valor, acredito. Considerando-se, por exemplo, uma variável importantíssima nesta equação, o interior do Brasil, com suas demandas regionais muito específicas e eu diria até ‘idiossincráticas’, típicas, pode ser que um curso técnico de nível superior tenha maior apelo, ou demanda, do que um curso tradicional, de uma universidade. Definir o perfil esperado do aluno, à luz de análises crítico/reflexivas da influência da regionalidade, é fundamental. Qual tipo de educação pretende-se ofertar? O debate que se faz necessário, a meu ver, num outro contraponto, é que é preciso lutar contra a indústria de “fabricação de diplomas”, quer seja no tecnólogo ou no tradicional, com instituições sem qualquer preocupação com a qualidade da oferta de seus cursos. É essencial sinalizar a importância do apoio/suporte a docentes e outros profissionais envolvidos na oferta das ações de ensino e de aprendizagem. Todo este debate se aplica aos cursos ofertados na modalidade à distância, inclusive. O desafio é fazer com que a educação à distância não seja compreendida como uma educação “distante” aos olhos dos alunos. Metodologias e estratégias pedagógicas terão que ser adaptadas e customizadas à cada realidade regional. Tornar a aprendizagem significativa é o principal desafio.
SB- Falou-se, entre outros pontos, de educação a distância e de operar nos espaços de discricionariedade, que têm como pressuposto, observadas as suas especificidades também os sensos de autonomia e de responsabilidade, ambos emergentes de uma atitude ética. Esta, por sua vez, exige capacidade crítico-reflexiva dos agentes para deliberar e agir de forma coerente, consistente e, sobretudo, justificada. As já antes referidas DCN para os Cursos de Bacharelado em Administração Pública (Resolução CNE/CES nº 01/2014) preveem como “competências e habilidades” (art. 4º), o estímulo ao desenvolvimento da capacidade de realizar “reflexões críticas” (inciso IV), elaborar “raciocínios críticos” (inciso V) e expressar-se de forma “crítica” (inciso VI). Que desafios e alternativas se destacam em relação a estes aspectos?
FC- Existem metodologias ativas, e baseadas na construção dialógica do conhecimento, especialmente em momentos síncronos (interação ‘ao mesmo tempo’ entre professores e alunos), na educação à distância, que são capazes de estimular a criticidade por parte do estudante. O nível de aprendizagem requerido dependerá do nível de desenvolvimento de competências a que se pretende chegar, se níveis mais simples, de ‘conhecimento ou compreensão’ de um dado conteúdo, por exemplo, até níveis mais complexos de resolução de problemas, de ‘análise e de síntese’. A meu ver, uma coisa é o conteúdo apresentar princípios de gestão; outra coisa, é o material do curso estimular a que o aprendiz reflita sobre a aplicação dos princípios de gestão à melhoria das políticas e práticas organizacionais, num determinado caso de ensino, por exemplo. São níveis muitos distintos de expectativas de aprendizagem e de performance. O formato, se síncrono ou assíncrono, bem como se existe e o tipo de tutoria, se ativa ou passiva, por exemplo, são extremamente relevantes ao se pensar a oferta de cursos a distância. O perfil do aluno não pode ser desconsiderado. Fóruns de debates poderão ser utilizados, desde que com regras claras de participação e uso. Não raro, por exemplo, identificamos “opiniões” em Fóruns de discussão que dizem respeito a um “Ctrl c Ctrl v”, copiado da internet, inclusive repetindo erros de escrita e de redação (nem têm o cuidado de corrigir antes de publicar) apenas para cumprir um número mínimo de postagens, normalmente exigido para como critério para fins de avaliação nas disciplinas. Isso é absolutamente inócuo, eu diria até sem sentido, e retira toda a motivação do aprendiz e dos professores (quando estão corrigindo). Ferramentas pedagógicas e plataformas precisam ser mais bem definidas e customizadas ao perfil do aluno. Ledo engano acreditar que simplesmente elaborar uma apostila, com conteúdo apresentado de forma impessoal, ou que transpor a mesma aula que seria dada na modalidade presencial para a modalidade à distância, ou elencar vários e vários artigos científicos para leitura, ou mesmo esperar que o aluno tenha, por si só, a motivação para aprender e transferir seu conhecimento, são suficientes para garantir o êxito de um curso no formato EaD. Não são. A EaD precisa ser muito mais customizada e detalhista na criação de oportunidades de aprendizagem aos alunos. Tutores presenciais, inclusive, poderão ser atores-chave essenciais no provimento de apoio e suporte à aprendizagem. Pílulas de videoaulas (sem terem duração muito extensa, pois não se tem mais paciência para vídeos longos!), baseadas em resolução de problemas, e utilizando-se de conhecimento transdisciplinar, aplicado, costumam gerar resultados mais efetivos na aprendizagem. O perfil dos tutores e professores também precisa ser levado em conta. Nem todo mundo tem a maturidade cognitiva e comportamental necessária, ou suficiente, para estudar à distância. Nem todo mundo tem a paciência e o desprendimento necessário, também. Pedagogia e educação precisam dialogar muito com os outros campos de saber, como a administração, oferecendo métodos e modelos mais apropriados para a oferta de cursos à distância.
SB-Para finalizar, quais seriam outras questões fundamentais a serem mais profundamente examinadas em termos de formação em administração pública?
FC-Importante aplicar nossos resultados, de pesquisas científicas, à melhoria dos processos de gestão. Propor e testar modelos, elaborando produtos técnicos e tecnológicos de excelência, aplicáveis à melhoria das condições de trabalho e do desempenho de organizações públicas, é essencial. Teorias, usando o fócus de organizações públicas, precisam ser propostas, construídas e testadas na realidade organizacional de administrações públicas municipais, estaduais/distritais e federal. Repensar o papel da educação, na transmissão de saberes associados à administração, é imprescindível. A transdisciplinaridade precisa ser muito mais estimulada. As ações mais eficazes de gestão costumam ser as mais simples. O caminho precisa ser trilhado. De tudo isto, findo com pensamento provocativo de Beto Guedes, na música ‘Sol de Primavera’: “a lição sabemos de cor, só nos resta aprender”.
Francisco Coelho Jr-Doutor em Psicologia Social, do Trabalho e Organizações pela Universidade de Brasília. Atualmente, é Professor Associado vinculado ao Departamento de Administração da Universidade de Brasília. Atua, também, desde 2010, no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Universidade de Brasília e no Mestrado Profissional (MPA). Foi Coordenador do Curso de graduação em Administração Pública, ofertado na modalidade a distância (PNAP/UnB), entre 2009 e 2011. Foi Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração da UnB, no biênio 2013-2015. Foi presidente da Comissão de Pós-Graduação, no Programa de Pós-Graduação em Administração da UnB, entre 2013 e 2015. Desde 2015, é membro de grupo de trabalho da ANPEPP que, atualmente, realiza pesquisas sobre o tema ‘Trabalho Digno/Decente’. Foi membro do Núcleo Docente Estruturante (NDE), do Departamento de Administração da UnB (2021/2022). É Coordenador do Eixo de EOGP, no Departamento de Administração da UnB, desde 2021. É Coordenador da Comissão de Pesquisa do Departamento de Administração desde 2021. É, desde 2023, membro da Comissão Permanente de Produtos Técnicos, do Mestrado Profissional em Administração. Coordena, desde 2021, o GT “Gestão de Pessoas e Comportamento Organizacional”, do Encontro Brasileiro de Administração Pública (EBAP). É parecerista em periódicos, nacionais e internacionais, nos campos da administração e da psicologia organizacional e do trabalho, desde 2009. Atua como parecerista do Encontro Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (Enanpad) e SEMEAD desde 2009, além de outros congressos brasileiros e internacionais. Realiza pesquisas na área de gestão, governança de pessoas e comportamento organizacional na administração pública, com ênfase no estudo do comportamento humano e interações sociais, construção de medidas de diagnóstico/avaliação e tecnologias sociais de inovação no gerenciamento de pessoas com enfoque tático/estratégico.Tem interesse em parcerias colaborativas e linha de pesquisa no estudo multinível da gestão de desempenho e competências em Organizações de natureza pública. Email: [email protected]
Sandro Bergue- Doutor em Administração, área de Estudos Organizacionais, pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração com ênfase em Administração Pública pelo PPGA/UFRGS. Especialista em Ensino de Filosofia (UFPEL). Graduado em Administração (FAPCCA), em Ciências Econômicas (UFRGS) e em Filosofia (UFPEL). Auditor de Controle Externo no Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul desde 1994. Docente convidado em cursos de pós-graduação em diferentes IES. Área de interesse em pesquisa: interseções entre os temas de teorias organizacionais, tecnologias gerenciais em organizações públicas, gestão de pessoas no setor público, filosofia e ética no serviço público e governança, planejamento e controle na administração pública. Autor de livros e de artigos científicos publicados em periódicos de circulação nacional e internacional e anais de congressos (áreas de estudos organizacionais, gestão pública e gestão de pessoas no setor público). Professor da Universidade de Caxias do Sul – UCS (1997 a 2015). Ex-Secretário Municipal de Transparência e Controladoria de Porto Alegre. Ex-Diretor da Escola Superior de Gestão e Controle do Tribunal de Contas do Estado do RS. Membro do Corpo Editorial Científico dos Cadernos de Gestão Pública e Cidadania, da Fundação Getúlio Vargas – FGV. Membro do Conselho Fiscal da Sociedade Brasileira de Administração Pública – SBAP. Membro da Câmara de Gestão Pública do Conselho Regional de Administração do RS. Membro do Grupo de Pesquisa NAVi – Núcleo de Aprendizagem Virtual, da Escola de Administração da UFRGS. Pesquisador Associado ao Núcleo de Pesquisa e Documentação da Política Rio-Grandense – NUPERGS/PPG Ciência Política/UFRGS. Pesquisador no grupo de pesquisa Gestão do Trabalho, Liderança e Transformação Digital, da Universidade de Brasília. Membro do Grupo de pesquisa Centro de Investigação em Governo Aberto e Transparência – GIGAT, da UDESC. Diretor-Geral da Escola Superior de Auditoria Pública – ESAP, do Centro de Auditores Públicos Externos do TCE-RS. Membro da Comissão de Ética e Disciplina do Conselho Regional de Administração do RS. Email: [email protected]
[1] Coelho, F. S. (2019). História do Ensino de Administração Pública no Brasil (1854-2006): antecedentes, ciclos e a emergência do Campo de Públicas. Brasília: ENAP/SBAP. https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/4285
[2] Coelho, F.S., Almeida, L.S.B., Midlej, S., Schommer, P.C. & Teixeira, M.A.C. (2020). O campo de públicas após a instituição das diretrizes curriculares nacionais (DCN) de administração pública: trajetória e desafios correntes (2015-2020). Administração: Ensino e Pesquisa, 21(3), 488-529. DOI 10.13058/raep.2020.v21n3.1897
[3] Santos, F.B.P & Teixeira, M.A.C. (2019). Inovações e desafios metodológicos no ensino de administração pública no Brasil: um olhar com base no caso da FGV/EAESP. Administração: Ensino e Pesquisa, 20(1), 211-230. https://doi.org/10.13058/raep.2019.v20n1.1378
[4] Bergue. S. T. (2023). Ensino de filosofia e ética nos currículos de administração pública. Estudos de Administração e Sociedade, 8(2), 48-63. https://doi.org/10.22409/eas.v8i2.58470